sábado, 18 de junho de 2016

Resenha - Um estranho no ninho

Resenha escrita para nota final do 5. semestre do curso de Musicoterapia - Supervisão de estágio



Um clássico tocante para estudantes de Psicologia e cursos afins. Interessante para os estudantes de psicologia, é o foco no behaviorismo praticado por alguém que nada entende de psicologia e só age no "trabalho" da transferência

Um filme premiadíssimo, com performances maravilhosas e claro, Jack Nicholson dando show. O filme merece uma resenha minha há muito tempo!

Ficha Técnica
Titulo: Um estranho no ninho (a.p. 1975)
Direção: Milos Forman
Elenco: Jack Nicholson, Louise Fletcher, Dani de Vito, William Redfield e Christopher Lloyd
Roteiro: Lawrence Hauben e Bo Goldman (baseado na peça de Ken Kesey)
Diretor de fotografia: Haskell Wexler
Música de Jack Nitzsche
Produção: Saul Zaentz e Michael Douglas

O filme "Um estranho no ninho" surgiu do sonho de Kirk Douglas em transformar em filme um romance cultuado pela juventude dos anos 60. Transformado em peça de tatro, foi um tremendo fiasco.

Após 10 anos, Michael Douglas, filho de Kirk Douglas, conheceu o então jovem diretor de cinema, Milos Formam, esse foi o gatilho para a realização do sonho do pai de Michael, no ano de 1975.

Esclareço que a década de 70 foi um marco importante para os americanos, pois uma grande geração de cineastas estava surgindo na época, dentre os quais, é importante destacar: Coppola, Scorsece, DePalma, Cimino. Estes são os grandes pela renovação do cinema americano.

Ao longo de toda sua obra, Milos Forman apresenta situações e personagens que se repetem de alguma forma. Em "Um estranho no ninho", a personagem ganha vida através de Jack Nicholson, que faz a interpretação mais emblemática da figura transgressora, que tanto seduz Forman.

Forman reatrata com maestria, através da enfermeira Ratchett uma sociedade reguladora e conservadora, com normas inflexíveis. Quanto ao hospital psiquiátrico, trata-se de uma vitrine que reproduz a segregação étnica dos EUA, com os brancos no comando, os negros como serviçais, e o índio, uma figura completamente anulada, sem espaço para manifestar-se como indivíduo. 

Esta caracterização do índio é bem interessante no filme, pois além da nulidade da sua representatividade no drama, ele é surdo e mudo. Portanto, não existe comunicação alguma entre ele e os outros internos, e claro, com a equipe médica.

Presidiário, MacMurphy é encaminhado a um hospital psiquiátrico para passar por uma avaliação, pois a direção do presídio desconfia que ele se faz passar por doente mental apenas para fugir do trabalho e da árdua rotina da prisão.


No hospital psiquiátrico o que MacMurphy encontra são internos extremamente passivos diante da figura autoritária e fria da enfermeira "terapeuta" Ratchett. No entanto, com o passar dos dias, MacMurphy vai aos poucos ganhando a confiança dos outros internos e, ao seu modo, levando um pouco de consciência a eles. Ratchett não vê na figura de MacMurphy um louco, mas sim, uma pessoa perigosa.

A enfermeira Ratchett faz a vez do que chamamos terapeuta, portanto é a pessoa responsável pelo bem-estar dos pacientes. Está em suas mãos a ajuda pra que os internos aprendam a superar suas crises emocionais, existenciais e mentais. No entanto, não é o que acontece. Em todas as sessões a enfermeira conduz os acontecimentos. O paciente não encontra espaço para falar de suas angústias.
Todas as intervenções da enfermeira são marcadas por transferências dela.


É importante notar que todos os internos são homens, portanto, as suas angústias são marcadas por figuras femininas que de maneira pouco profissional, a enfermeira tenta defender, como se ela justificasse as ações dessas mulheres na vida vida desses pacientes, mostrando a eles a parcela de culpa deles e o quanto eles fracassaram com a mulheres, sejam elas mães, esposas, namoradas. Para ela é uma questão pessoal, esses homens na verdade atingem a sua posição como mulher.

Com a chegada de MacMurphy, Ratchett começa a sentir o controle fugir de suas mãos. O comportamento transgressor de Murphy entra em cheque com uma rotina entorpecente, onde ninguém age e todos são manipulados pela "enfermeira-terapeuta".

A rotina do hospital vai mudar completamente devido a presença desse homem que não aceita a passividade dos pacientes, e esse é o maior problema para a enfermeira. Os pacientes começam a questionar o porque de falar sobre o que Ratchett quer e não sobre o que os pacientes querem.


É interessante como a questão do vínculo é tratada, ou melhor, é deixada de lado. O vínculo existente entre terapeuta e paciente é algo completamente dispensável, uma vez que são ditadas as normas e os pacientes devem apenas segui-las, sem nem mesmo saber qual é a utilidade da terapia.

A forma autoritária como a enfermeira aborda os pacientes faria Freud se levantar do túmulo.

Numa relação que se baseia na confiança e na ajuda, a enfermeira, agiu contra todos os princípios: a falta de sensibilidade junto a inflexibilidade acabam por culminar no suicídio do jovem e deprimido Billy. Valendo-se do poder que a figura materna exerce sobre o rapaz, ela se se utiliza desse fator para fazê-lo sentir-se envergonhado por ter feito sexo com uma garota.

Na realidade, a figura assombrosa da enfermeira é apenas um reforço negativo para cada um dos internos. Ela é a personagem que provoca o sentimento de impotência e reforma a ideia da incapacidade mental de cada um.

Infelizmente, o desfecho do filme, como em todos de Forma, não é bonito. MacMurphy é submetido a uma lobotomia, uma forma de mostrar no filme, que uma figura transgressora precisa ser eliminada. 

A lobotomia faz sentido, pois é a forma mais eficaz de transformar uma pessoa que incomoda, num completo vegetal. É fechar com chave de ouro, coroando a figura opressora quando ela consegue anular completamente a pessoa que tanto a incomoda.


O papel de Ratchett como terapeuta é tão contrário aos princípios da profissão que para ela, é uma vitória ver a frustração estampada no semblante de um interno.

A última cena do filme talvez seja um conforto, o índio, ao ver MacMurphy transformado num vegetal, prefere matá-lo a vêlo daquele jeito, e isso finalmente, o transforma numa montanha (como o índio era chamado).

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